quinta-feira, 6 de novembro de 2014

A sociedade humana já chegou ao estágio de sua decadência?

       
     O conjunto humano pode organizar-se de diversos modos. A evolução e a dinâmica de cada um produzem atritos de diferentes aspectos, o que leva tais grupos sociais à guerra ou a procura pela harmonia a fim de garantir as respectivas existências. Vamos tentar fazer pequena análise desse assunto.
        A própria Natureza, inteligência criadora, nos ensina como proceder na organização sociológica. Ela criou, desde os tempos imemoriáveis, resultante do exercício evolutivo de milhões de anos, o protótipo desse vínculo segundo a natureza de cada estirpe. Na espécie humana, instituiu a família, modelo perfeito de aglomeração de indivíduos. Básica e logicamente, essa organização se compõe de pai, mãe e filhos.
        O pai, pelos atributos genéticos, ostenta musculatura desenvolvida que indica suas funções. Ele será o chefe, responsável, provedor, guia, comandante, lutador. A mãe, fisicamente subordinada ao chefe, o complementa constituindo o casal, verdadeira unidade vital. A mãe é portadora da principal função existencial, pois é a geratriz, alimentadora e educadora da prole nos primeiros anos. Os filhos têm apenas uma função: aprender. Aprendem do pai e da mãe. Vivem num ambiente de solidariedade, amor e justiça.
         Essa é a organização básica que nos foi legada para servir de norma; é produto de um instinto inteligente. Suporta qualquer crítica, mantendo-se incólume.
         Com o passar do tempo e atuação das forças evolucionárias, a dinâmica familiar cresce numericamente e se transforma numa grande família, sem perder a estrutura genética e os valores próprios da língua e tradições culturais, seus sinais mais visíveis da identidade.
          Na escala de desdobramento cíclico, ocupam seus lugares os avós, irmãos, tios, sobrinhos, primos, noras, genros, cunhados. Esse conjunto que se organiza pela descendência, passa a ter o nome de clã. Estrutura-se com o suporte da presença e atuação do chefe superior do clã, cuja principal função é distribuir obrigações e justiça, pois todos são seus “filhos”, ou descendentes.
          Quando o chefe entende conveniente, pode expulsar da comunidade alguma ovelha negra ou acolher de outros grupos as fêmeas ou machos casadouros. Enquanto não chegarem a adultos, as crianças têm uma só ocupação: aprender a ser adultos. Por isso, a importância da educação.
           Os bens e alimentos são naturalmente, por índole e sentimento de justiça, distribuídos igualmente entre todas as subfamílias segundo suas necessidades. Tal como fazia o patriarca, quando era apenas pai, em relação a todos os seus descendentes. Não havia ricos nem pobres. Por isso, desconheciam essa aberração social. Se ocorre eventual escassez de algo essencial, todos se privam dele sem qualquer sentimento de injustiça, pois o reconhecimento da igualdade de direitos está arraigado e consolidado no inconsciente desde a infância.
           Conforme as situações externas, que exercem fortíssima influência nos componentes de uma comunidade, esses clãs podem diminuir ou aumentar numericamente. Mas sempre mantendo a estrutura natural tradicional.
           Quando cresce muito, transforma-se em nação, mas não perde os valores de sua identidade e estrutura primordial como mostra a existência ainda hoje de diversas comunidades primitivas igualitárias por esse mundo afora. Releva-se como exemplar para o homem moderno a sociedade constituída pelos silvícolas ainda não contagiados pelas mazelas do materialismo dos ditos civilizados.
            Reconhecendo a igualdade e justiça como valores aglutinantes da verdadeira sociedade, os idealistas atuais têm formado diversas comunidades, como as ecovilas, cooperativas e sociedades alternativas. O sistema comunitário também estrutura as sociedades religiosas de diversos matizes.
          Quando um conjunto se agiganta pelo crescimento nominal e perde o controle organizacional pela complacência de algum chefe fraco ou omisso, algum dissonante finca um pau no chão e declara para os demais: “este pedaço de chão é meu.” Para isso, inventou uma palavra que não existia; propriedade. Imagine-se a dificuldade dos demais em entender o que significa propriedade, palavra abstrata, advinda de uma volúpia egoística personalística, um momento de loucura existencial?
         Daí em diante, alguém vendo o exemplo, num ambiente sem autoridade por deterioração moral ou cumplicidade do chefe, fincou outro pau logo adiante e disse as mesmas palavras. Pronto. Estava iniciada a primeira corrosão social do mundo, com a introdução do conceito materialista de valor. A injustiça passou a ser um valor diferenciador básico. Esse foi o começo da introdução do sistema econômico na norma social, duas entidades completamente distintas que vivem em simbiose para a desgraça da grande parcela fraca, miserável e ignorante.
         Daí em diante, a História registra a evolução da sociedade, não mais composta de clãs, mas de um amontoado de humanos que passou a se chamar povo. Nesse cadinho social, por contágio, os componentes adquiriram uma exasperada cobiça que o ambiente normal se transformou em um banquete perverso e permanente em que cada indivíduo procura devorar seu semelhante. Não há mais irmandade. Todos são inimigos conviventes que mantêm um relacionamento voltado exclusivamente para seus interesses individuais. Os recursos da natureza passaram a ser saqueados, perdendo-se o respeito e gratidão para com a mãe-Terra. Ficou um ambiente favorável ao estímulo à violência – produto do desamor – produzindo como consequência um grande grupamento disforme, completamente inferior, injustiçado e desnaturado.
         É o que hoje se vê a todo lado, em qualquer circunstância. É um ambiente revoltante para os bons e honestos que sofrem testemunhando tamanha miséria e injustiça.
        Os párias são mantidos anestesiados pela ignorância geral e universal, propiciados pelo obscurantismo das crenças religiosas, do analfabetismo mental e oferta abundante de diversionismos de várias categorias.
          E quanto maior a população mundial, mais se acentuam as injustiças e contradições sociais provocadas pelo maior apetite da classe argentária.
Maurício Gomide Martins, 82 anos, ambientalista e articulista do EcoDebate.

sábado, 8 de maio de 2010

A Historia de Messias - Apresentação

Apresentação



Com o propósito de criar uma discussão a respeito dos caminhos seguidos pelas Igrejas, e a interpretação da bíblia como um livro sagrada. A história de Messias, uma ficção, que traz todo um questionamento sobre os caminhos da Igreja Católica ao longo de sua existência. Não queremos que os leitores entendam que, o objetivo é desconsiderar a importância histórica na evolução dos povos, na cultura, e nos limites que a Igreja ajudou para o desenvolvimento sócio-cultural. Principalmente no Brasil. Contudo, nem sempre os meios justificam os fins. Quando se trata da espiritualidade, o livro sagrado sempre prevalecerá sobre todas as vontades e, acima dos objetivos de qualquer pessoa, ou instituição.

A Historia de Messias - Introdução

Introdução

Minha formação espiritual foi bastante conflitante. Cresci em uma cidade do interior totalmente católica e, que vivia toda a sua tradição com muita intensidade. Minha mãe, como toda sua família, já havia se convertido à doutrina evangélica (Igreja Batista). Sempre na ausência de meu pai, que era católico, tentava doutrinar eu e meus irmãos. Pelo fato de que, entre meus colegas de escola ou de rua, chamar uma pessoa de crente era demérito e pela resistência de meu pai, eu sempre fugia dessa possibilidade. Todos os domingos, por exigência dele, éramos conduzidos à igreja católica. Para mim, apesar de acreditar nos ensinamentos que minha mãe mostrava, sempre com uma bíblia na mão, era como um escudo para não ser chamado de crente pelos colegas.
Na escola vivia outro drama. O ensino religioso na época era voltado para os ensinos da doutrina católica. Alguns professores que conheciam nossa família, às vezes sugeriam para os alunos que tivessem outra religião, que não precisava assistir a aquela aula. Nunca me manifestava e cabisbaixo assistia a aula.
Cresci sem ser um cristão atuante em qualquer Igreja. Mas freqüentava todas. Meu comportamento sempre crítico em relação às atuações dos ministros de Deus, os Padres e os Pastores, que, sempre usavam de argumentos conflitantes com os ensinamentos bíblicos. Cheguei por algumas vezes, a freqüentar reuniões espíritas e algumas casas de Umbanda, como forma de saber o que de fato ocorria com a minha espiritualidade. Também em algum momento, duvidei da existência de Deus. Tudo isso me fez buscar respostas para minhas dúvidas. Assim nasceu a obra “A História de Messias”.Essa obra possui as respostas que sempre quis ter, e me eram negadas, somente as encontrando na Bíblia Sagrada.Certamente muitos buscam também essas respostas. E o mais importante de tudo, é que também me proporcionou um encontro verdadeiro com Deus e com Jesus Cristo. Hoje toda minha família inclusive meu pai, vivem suas vidas conforme os ensinamentos de Jesus Cristo.

César Torres.

A História de Messias - Celibato e o pecado

O VELÓRIO DO CORONEL AFONSO CALADO

A cidade de Monte Alto – região das vertentes de Minas Gerais, população de pouco mais de cinco mil habitantes – vivia uma tarde de tristeza, chorava a morte de Messias Calado e de seu pai, o Cel. Afonso Calado, que teve um infarto fulminante após ouvir a notícia que no Mosteiro onde ficava o seminário em que o filho estudava ocorrera uma tragédia sem precedentes. Houve um incêndio de grandes proporções, sem nenhum sobrevivente, todos estavam carbonizados e irreconhecíveis. A polícia estava utilizando todos os métodos para identificar os corpos, em alguns eram usadas as arcadas dentárias, em outros o Instituto Médico Legal solicitava a presença de familiares para fazer o reconhecimento pelo DNA. Coronel não resistiu à notícia e sofreu um infarto fulminante, apesar da mucama Ester ter providenciado a sua remoção para o único Hospital, mas era tarde demais.

Coronel Afonso Calado – viúvo e pai de Messias Calado - que era considerado na cidade um de seus filhos mais ilustres, o primeiro seminarista de Monte Alto e quando ordenado Padre era a expectativa de todos que se tornasse o pároco da cidade. Cel. Afonso era um homem muito rico, comentavam até que o velho não sabia da riqueza que acumulara, possuía muitas fazendas com lavouras, criação de gado, vários imóveis e, também, muito dinheiro nos bancos. Sua influência política era inquestionável. Todos o respeitavam e o temiam e, apesar de ser um bom homem, era firme e decidido.

Todas as pessoas influentes de Monte Alto participavam do velório: prefeito, vereadores, o Padre, pastores, enfim, toda sociedade sabia da importância daquele homem e que era uma perda irreparável. Todos lamentavam sua morte, até mesmo o senhor Gregório Malaquias de aproximadamente 50 anos era o maior desafeto político do Coronel, também de pouca cultura, mas possuía uma vontade enorme de se tornar um líder na cidade. A razão da inveja latente era a grande influência do Coronel nos resultados das eleições, situação esta que às vezes o tornava impulsivo, criando muitos constrangimentos a todos, causa de sua pouca credibilidade, na verdade, era considerado pelos companheiros do Coronel como um grande fofoqueiro. Sendo seu maior adversário e por falta de argumentação política, muitas vezes desejou publicamente sua morte, dizendo aos quatro cantos que queria que o Coronel fosse levado para as quintas do inferno. No fundo, Gregório estava feliz com a partida sem volta do Cel. Afonso e, ao mesmo tempo, ao saber do incêndio no Seminário, da possível morte de seu filho Messias.

A Historia de Messias - O inicio

O INÍCIO

Fogos de artifício iluminavam os céus. O sanfoneiro abria e fechava o fole como se fosse sua última noite. A casa estava repleta de convidados que bebiam e comiam sem parar. A cachaça, fabricada no alambique da fazenda, era o orgulho do fazendeiro que exportava até para a capital, era tirada de um tonel de madeira e servida em cabacinhas. Os casais dançavam fazendo a poeira levantar enquanto o churrasqueiro gritava: – carne assada para toda moçada! Sirvam-se para não sobrar! E a festa rolou a noite inteira, era o batizado de Messias, filho de Cel. Afonso Calado e Dona Sara Rosa Calado, sua esposa. Já tinham uma filha, Rosalma, com seus dez anos de idade, como já haviam tentado esses anos todos e Dona Sara não conseguia mais filhos depois de dois abortos involuntários. Fizeram uma promessa: se ela engravidasse e fosse menino, ele teria que ser Padre, como agradecimento a Deus pela dádiva concedida. Na festa estava presente o pároco local, Padre André, muito querido pela família e por toda cidade, o mesmo que fez o casamento de Cel Afonso com Dona Sara, batizou a sua primeira filha, a menina Rosalma e, agora, o filho, com o nome de Messias, que recebeu o juramento e a promessa do Cel. Afonso e Dona Sara em dar o filho à Igreja.O compromisso foi levado tão a sério que o Coronel acabou por comprar uma casa na cidade para facilitar a freqüência à Igreja e o apoio aos trabalhos religiosos.
Messias foi crescendo e sendo orientado pela família e pelo Padre André, que possuía uma cadeira cativa no almoço da família aos domingos e sempre elogiava as deliciosas guloseimas preparadas com esmero pela anfitriã.

Messias se transformou em um belo jovem, alto, olhos negros, cabelos lisos penteados para trás, sempre com ar sereno e compenetrado, de pouca fala, mas muito observador, demonstrando sempre muita astúcia nos negócios, muito disciplinado e obediente.

Em alguns momentos, Messias chegou a questionar a vontade do pai, chegando às vezes a reclamar com sua mãe por não estar certo de sua vocação. Achava que poderia ser um grande erro que estaria cometendo na vida. Em várias ocasiões pensou em abandonar sua família, buscar outros horizontes e fugir das imposições do pai, mas nunca teve coragem, mesmo porque conhecia bem o pai e sabia que seria como uma punhalada em seu coração e não podia medir as conseqüências para toda família.

Terminado o segundo grau, sentiu que era o momento de decidir sua vida, apesar de não estar convicto de suas reais vocações religiosas, não tinha forças e a vontade do pai prevalecia. Nesta idade já tinha namorado algumas garotas na escola e sentindo-se que um Padre opta pelo celibato, era uma difícil decisão, pois já conhecia o sabor dos desejos da carne. Os namoros eram sempre sem conhecimento do pai, que não admitia ver o filho desrespeitar sua vontade, pois no seu pensamento o filho tinha que ser casto e assumir o celibato em seguida.

A Historia de Messias - A primeira entrevista

A PRIMEIRA ENTREVISTA


...Depois do relatório de Padre Paulo, foi conduzido para sala do Monsenhor Erich Christi. Um alemão de 65 anos, olhos claros, cabelos já raros e brancos, se encontrava no Brasil há mais de trinta anos; fala mansa, mas com um sotaque muito forte, pronunciava muitas palavras com dificuldade, era responsável pela administração geral e, por esta razão, era sempre ele que fazia uma avaliação vocacional de cada seminarista. Mais duas horas de conversa, buscou informações da vida de Messias desde sua infância, até a decisão de se matricular no seminário. Fazia sempre as perguntas diretas talvez pela dificuldade com algumas palavras.
– Messias, por que você procurou o seminário?
– Bem, acredito que tenho vocação. Respondeu.
– Você gostava de freqüentar as missas ou era somente companhia para os pais? Esta pergunta é porque temos ciência de que seus pais são muito católicos e que fizeram uma promessa de transformá-lo em um discípulo de Deus. Informação preliminar de Padre André, seu padrinho aqui no Mosteiro, e poderia estar atendendo somente uma vontade deles e não um desejo seu.
– Não, Monsenhor, eu estou aqui porque escolhi servir a Deus, foi uma escolha pessoal, não nego que desde que me entendo por gente ouço, principalmente de meu pai, que seria um seminarista e Pároco em Monte Alto. Respondeu um pouco preocupado, porque no fundo o Monsenhor tinha um pouco de razão.
– O que espera do seminário?
– Adquirir conhecimento teológico e ser ordenado Padre para me tornar servo de Deus e difundir o santo Evangelho.
– Muito bem, Messias, você sabe que o seminário não é uma escola comum, aqui, como pode notar pelas informações que recebeu de Padre Paulo, as normas são seguidas com rigor. Quero saber com um pouco mais de detalhes sobre sua vida pessoal. Incomoda-se?
– Não, Monsenhor!

A Historia de Messias - O quarto 33

O QUARTO 33

Era comum ser questionado quanto à permanência no quarto 33, se estava tudo normal ou se tinha visto algo estranho. O que tem o quarto 33 de diferente dos demais? Sempre que procurava informações com os mais antigos, somente ouvia rumores, nada que justificasse a preocupação de todos. As respostas eram sempre evasivas e, por mais que insistisse, Fábio, se recusava a falar no assunto. Certo dia, Fábio sentindo que deveria passar o pouco que sabia para seu amigo, pois percebera que aquilo já o incomodava muito, trancaram-se no quarto de Fábio.